... Excertos do artigo de António Barreto:
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«Nestes períodos de dificuldade, perde-se rapidamente a cabeça com programas de salvação, quantas vezes a pensar mais nas eleições do que na sociedade.
Há muito dinheiro dos contribuintes a circular, mas não se sabe bem aonde ele vai parar. Salvam-se bancos e empresas, talvez, mas perdem-se vidas e famílias, provavelmente.
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Confortam-se especuladores, mas ameaçam-se os que poupam.
Por entre planos sofisticados, ficam a ganhar os técnicos e os burocratas, mas perdem os desempregados e os pobres.
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A rigidez da burocracia e da legislação elimina hipóteses de intervenção com bons resultados para a sociedade, a economia e os necessitados.
A rigidez da burocracia e da legislação elimina hipóteses de intervenção com bons resultados para a sociedade, a economia e os necessitados.
A megalomania das administrações e dos tecnocratas leva-os a produzir planos e programas que, no papel, gastam milhões e empregam milhares, mas que geralmente não respondem, ou respondem mal, às necessidades imediatas.
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Os desempregados que recebem para ficar em casa deveriam ter a oportunidade de fazer algo de útil para a sociedade e para a sua dignidade pessoal.
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Os reformados com possibilidade de colaborar deveriam ser organizados para prestar serviços úteis, solidários e até produtivos.
Os subsídios concedidos a quem sabe movimentar-se agilmente na selva dos fundos deveriam ter, em tempos de crise, outra “filosofia” e estarem destinados directamente a quem precisa e a quem sabe dar-lhes um destino genuíno, não necessariamente as inaugurações preparadas para a televisão.
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Deveria ser fácil e expedito encontrar soluções que travassem a caminhada inexorável para a falência e a perda definitiva de emprego.
Contratar “precários” em condições especiais deveria ser simples.
Tudo isto, evidentemente, desde que os empresários fossem honestos, falassem com os trabalhadores e dessem o exemplo.
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A administração deveria ter já organizado acções excepcionais que fizessem bem aos desempregados e aos pobres, mas que garantissem uma qualquer utilidade social.
A administração deveria ter já organizado acções excepcionais que fizessem bem aos desempregados e aos pobres, mas que garantissem uma qualquer utilidade social.
Áreas não faltam.
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Apoio aos lares de idosos;
Acompanhamento de velhos e doentes;
Cuidado de crianças em creche.
Transporte e deslocação de pessoas carenciadas.
Limpeza, reparação e manutenção do património.
Classificação de arquivos e documentos.
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Protecção e vigilância das florestas.
Tratamento e amparo dos sem-abrigo.
Reparação e calcetamento de ruas.
Vigilância dos museus (parcialmente fechados por falta de verba…).
Abertura de monumentos e bibliotecas até horas mais tardias.
Obras locais nos jardins e parques.
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Acompanhamento de actividades desportivas juvenis.
Transporte escolar.
Apoio às actividades das organizações não governamentais e de solidariedade.
O que não falta são necessidades.
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Quando há fundos à disposição dos pobres, dos desempregados, dos marginalizados e dos excluídos, assim como quando há recursos orientados para o desenvolvimento, as perguntas que logo surgem ao espírito são conhecidas. Será que esses recursos chegam realmente onde importa?
Quando há fundos à disposição dos pobres, dos desempregados, dos marginalizados e dos excluídos, assim como quando há recursos orientados para o desenvolvimento, as perguntas que logo surgem ao espírito são conhecidas. Será que esses recursos chegam realmente onde importa?
As mulheres e os homens do campo, das fábricas e dos serviços receberão alguma parte dos benefícios existentes?
As pequenas e médias empresas que geram emprego com mais flexibilidade e mais rapidez que os grandes conglomerados estão realmente no fim da linha dos fluxos de dinheiros?
Os apoios aos pobres, aos desempregados e aos idosos alcançam efectivamente aqueles a que estão destinados?
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Trabalhos muito sérios das Nações Unidas, do Banco Mundial e da União Europeia mostram que, desde os anos 70, grande parte da ajuda fica entre as mãos dos burocratas, dos políticos e de uma longa fileira de oportunistas que se colocam estrategicamente entre doadores e necessitados. Noutros casos, são os próprios agentes de desenvolvimento, nacionais ou estrangeiros, que retiram uma quota-parte considerável».
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António Barreto no Público de Domingo
António Barreto no Público de Domingo
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